Thursday, October 12, 2006

ZIRALDO - Porque eu vou votar no Lula

Sábado, 07 de Outubro de 2006, 00h01

ZIRALDO - Porque eu vou votar no Lula

Segundo o Mauro Santayana, que não nasceu em Minas - como o
Itamar, que nasceu no mar -, mas é uma instituição mineira, a
gente tem que ter muito cuidado com paulista.

É claro que estou tratando a coisa como uma brincadeira, somos
todos brasileiros (meus seis netos nasceram em São Paulo, a
esposa do meu filho e os maridos de minhas filhas são
paulistas e estou muito feliz com essa arrumação).

Como em nossa História, porém, nós, mineiros, andamos de
pinimba revolucionária com a paulistada, as lendas correm
soltas. Os cariocas diziam que mineiros compravam bondes.

Compravam, sim, confirmam alguns mineiros mais espertos; mas
pra vender pra paulistas. Conta-se também que mineiros nunca
se importavam de ver seus times sempre perdendo para os times
paulistas.

E explicavam: "Futebol nós perde; o que nós num perde é
revolução." Segundo o Mauro, que explica como a frase que vou
citar surgiu - história da qual me esqueci -, a rapaziada de
Minas mais próxima da fronteira com São Paulo avisa pro resto
da mineirada: "Paulista, nem à prazo nem à vista!"

Taí o Fernando Henrique Cardoso que não deixa a mineirada
mentir, não é mesmo, Itamar? Bem, depois de ler esta
introdução e ver lá em cima o título do artigo, os mineiros
que me leêm neste instante e para quem um pingo é letra já
perceberam onde quero chegar.

Pra simplificar, antes de entrar em considerações é só lembrar
ao meu povo - mineiro, como vocês sabem, chama o povo lá de
casa de povo - que nós, o Brasil inteiro, ficamos, a esta
altura, entregues a duas possibilidades paulistas: ou entra o
Álck'min (cujo sobrenome é um desrespeito a Minas, terra dos
alquimíns de Bocaiuva) ou entra o Lula que, no fundo, é um
metalúrgico paulista que venceu na vida.

Nunca podemos nos esquecer de que, quando FHC assumiu, o
projeto deles era o de ficar 20 anos no poder. Dentro do
plano, tiveram a cachimônia (adoro esta palavra!) de inventar
o acontecimento mais antiético da história da República
brasileira: a reeleição.

Ela foi um sujo golpe às instituições, uma medida que nem os
militares da ditadura tiveram a coragem de perpetrar,
realizada em causa própria - com o principal beneficiário no
poder - e conseguida da maneira mais desonesta de que se tem
notícia: comprando, por preço nunca sabido, o voto dos
deputados que, sem que a imprensa brasileira se escandalizasse
ao nível do que se escandaliza hoje, começavam a desmoralizar
mais ainda o nosso tão desmoralizado Congresso. Tudo começou
com essa gente. E eles querem voltar ao poder.

"Non pasarán!" - os mineiros têm a obrigação de dizer. A
trajetória política do Lula serviu para provar que a alma
humana é que atrapalha todos os mais nobres planos de salvação
de um povo. A verdade é que ninguém, mas ninguém mesmo, ama o
povo. É tudo conversa.

As pessoas se movem em torno do poder e só depois é que
descobrem uma causa para justificar sua luta por ele (o
poder). Enquanto o ser humano, como indivíduo, mover-se em
função do rancor, da carência afetiva e da inveja, não haverá
possibilidade de êxito para qualquer causa coletiva.

Mas isso é outra história. O Luis Fernando Veríssimo descobriu
a pólvora: Lula é o sertão - vejam sua vitória no Norte e
Nordeste; na alma do povo ele é mais de lá do que de São
Bernardo - e o Alckmin é da Daslu.

Delenda Daslu! Não é possível que nós, mineiros - depois de
termos cometido o erro que o Itamar cometeu, este de inventar
essa deletéria figura do Fernando Henrique - vamos agora
eleger o Alckmin.

"Um erro, nós admitimos, dois, não." - como diria o macaco que
não devolveu o troco a mais na primeira compra e exigiu o
troco a menos na segunda.

Tenho certeza de que o Aécio está no palanque apoiando o
Alckmin por uma questão de lealdade ao seu partido - onde ele
me parece um estranho no ninho, mas já que está lá... - e não
por convicção.

Ele sabe que Lula tem que ganhar disparado em Minas neste
segundo turno para evitar que Alckmin assuma a presidência e
mele o projeto nacional de ter o Aécio como presidente do
Brasil no próximo pleito.

Então, é isto: o Aécio está falando que é pra gente de Minas
votar no Alckmin. Mas, todo mineiro sabe que isto é como
aquela velha anedota da rodoviária: "Ocê tá dizendo que vai
pra Manhuaçu pra eu achar que ocê vai pra Manhumirim, mas, ocê
vai é pra Manhuaçu, mesmo".

Ou seja, ele tá dizendo pra nós votá no Geraldo, mas é pra nós
votá no Lula, mesmo. Para aplacar a consciência dos possíveis
eleitores do Lula que não votarão nele com muita alegria,
prestem atenção: independente das razões que dei até agora pra
nós, mineiros, votarmos no Lula, tenho outras razões mais
consistentes.

Todo mundo fala do escândalo da corrupção no governo Lula. É
realmente assustador, nunca vimos pessoal mais incompetente,
mais desastrado, mais canhestro e - vamos lá - mais desonesto.

Quer dizer, mais desonestos já vimos, sim. É só lembrar que a
maioria dos escândalos que são atribuídos a estes melancólicos
sindicalistas da tropa do Lula, esses peleguinhos de quinta
ordem, sempre foram frequentes em administrações anteriores,
só não tiveram tanta visibilidade como têm agora.

Muitos dos escândalos que se creditam à administração Lula
começaram no governo anterior, como o escândalo dos
sanguessugas - cujo teor de gravidade pode ser medido pelo
valor atribuído ao dossiê que o denuncia - e a fabulosa
aventura do Marcos Valério.

Agora tudo se denuncia, tudo se apura, ainda que tudo vá ficar
por isso mesmo, mas vejam um detalhe: a turminha do Lula, meus
amigos, é descartável! Eles são ladrõezinhos de m. dos quais o
país pode se livrar com um peteleco. Vai ser fácil ficar livre
deles.

O que nós nunca conseguiremos é livrarmo-nos da oligarquia
brasileira, dos bornhauses da vida, dos jereissatis, dos ACMs,
dos ricos paulistas que já tiveram a coragem de confessar:
"Somos todos corruptos!"

É essa gente que herdou as capitanias hereditárias e que está
montada no povo desde que os portugueses chegaram aqui. É essa
gente que construiu a parte indecente da história do nosso
país. É essa gente que fala em ética, mas acha que aceitar
voto de qualquer um é correto.

É essa gente farisaica que pensa que é melhor do que o povo do
Lula. Mas, não é. Temos que dar mais uma chance a este
segmento da sociedade que chegou ao poder com o Lula.

Eles estão sendo minados o tempo todo, mas, pelo menos, são
outra gente. Não quero de volta os hipócritas da paulicéia
desvairada. Prefiro o messianismo sertanejo do Lula.
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